ANALOGIA DA ÁGUA E DO PEIXE SOBRE SALVAÇÃO E INFERNO
É com respeito que quero refutar a argumentação do Dr.
Rodrigo Silva sobre inferno e salvação em parte de um vídeo muito veiculado nas
mídias sociais. Evidenciando uma linha teológica Calvinista.
Transcrição do vídeo:
A relação entre Deus,
inferno, salvação e os seres humanos pode ser ilustrada assim: A água diz para
o peixe ficar nela. Então, o peixe pula e sai dela para o lado de fora! Esse
peixe vai morrer, não porque a água condenou o peixe à morte, mas sim porque o
peixe, ao se recusar a ficar na água, escolheu a morte. Portanto, quando as
pessoas escolhem não querer viver em Deus, Deus não as obriga. Deus não
intervém de maneira arbitrária, obrigando o homem a algo que ele não quer (você
será salvo porque eu quero e pronto). Deus respeita a decisão do homem em
morrer condenado com dor no coração. Mesmo que Deus tente fazer de tudo para
trazê-lo para dentro da água, se esse peixe se encontrar num estado tão ruim
que não tem forças para pular para dentro da água, ele morrerá. O inferno é
isso! Ausência absoluta de Deus!
Essa é uma argumentação baseada em uma teologia arminiana
que é sinergista, teologia usada pelos pentecostais e adventistas. Essa
teologia enfatiza o livre-arbítrio humano e a participação ativa do homem na
salvação. No entanto, há diferentes interpretações teológicas e perspectivas
sobre o tema, e é válido explorar uma abordagem calvinista (teologia usada
pelas igrejas históricas de cunho reformado), que destaca a soberania de Deus,
o poder de Deus em salvar e outros aspectos importantes da teologia calvinista.
Soberania de Deus e poder de Deus em salvar: A Bíblia afirma
repetidamente a soberania de Deus sobre todas as coisas, incluindo a salvação.
Por exemplo, Efésios 1:11 declara: "Nele [Cristo] também fomos feitos
herança, predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas
conforme o conselho da sua vontade". Além disso, João 6:44 afirma:
"Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o
ressuscitarei no último dia". Esses versículos ressaltam que é Deus quem
inicia e realiza a obra da salvação, não dependendo da vontade ou escolha
humana.
Chamado eficaz, predestinação e graça irresistível: A
doutrina do chamado eficaz e da predestinação é mencionada em Romanos 8:30:
"E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses
também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou". Esse
chamado é irresistível, pois é efetivo e leva irresistivelmente os eleitos a
responderem positivamente ao chamado de Deus. A graça irresistível é uma
manifestação do poder de Deus para superar a resistência humana à salvação, conforme
declarado em Efésios 2:8: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e
isso não vem de vós, é dom de Deus". Depravação total do homem: A Bíblia
ensina que a humanidade está espiritualmente morta e incapaz de buscar a Deus
por conta própria. Romanos 3:11 afirma: "Não há quem entenda, não há quem
busque a Deus". Esse estado de depravação total impede que os seres
humanos escolham a salvação por si mesmos. No entanto, Deus, em sua graça,
intervém e capacita os eleitos a responderem ao seu chamado.
Vontade do homem e a soberania de Deus: A
"vontade" do homem não anula a soberania de Deus. Na verdade, a
vontade humana está sujeita à vontade soberana de Deus. Embora os seres humanos
tenham liberdade de escolha e possam tomar decisões, é Deus quem governa sobre
todas as coisas e determina os resultados finais. Sua vontade soberana
prevalece sobre todas as circunstâncias e ações humanas.
A Bíblia nos oferece vários exemplos que demonstram a
soberania de Deus sobre a vontade humana. Por exemplo, Provérbios 21:1 afirma:
"O coração do rei está na mão do SENHOR como ribeiros de água; ele o
inclina a todo o seu querer". Isso indica que mesmo líderes poderosos e
suas decisões estão sob o controle e influência de Deus.
Além disso, vemos exemplos na vida de personagens bíblicos.
Por exemplo, o caso de Faraó no Êxodo demonstra a soberania de Deus sobre a
vontade humana. Embora Faraó endurecesse seu coração em várias ocasiões, foi
Deus quem estava no controle e usou as ações de Faraó para cumprir Seus
propósitos (Êxodo 9:12).
A doutrina da soberania de Deus é defendida por diversos
teólogos renomados ao longo da história, como Agostinho, João Calvino e
Jonathan Edwards. Eles sustentam que a vontade de Deus não é limitada ou
influenciada pela vontade humana, mas sim que Ele trabalha todas as coisas de
acordo com Seu plano eterno.
Portanto, é importante reconhecer que a soberania de Deus
está acima da vontade humana, e mesmo quando os seres humanos exercem sua
liberdade de escolha (livre agência), é Deus quem governa e dirige os
acontecimentos de acordo com Seus propósitos soberanos.
A Doutrina da perseverança dos santos: A perspectiva
calvinista, conforme expressa por teólogos como Louis Berkhof, ensina a
doutrina da perseverança dos santos. Isso significa que aqueles que são
verdadeiramente salvos por Deus são continuamente guardados e sustentados por
Ele, e não podem perder a sua salvação. Isso se baseia na promessa de Jesus em
João 10:28: "Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as
arrebatará da minha mão".
Portanto, é importante reconhecer que a teologia calvinista
apresenta uma perspectiva diferente da teologia arminiana, enfatizando a
soberania de Deus na salvação, o chamado eficaz, a predestinação, a graça
irresistível e a depravação total do homem. Essas doutrinas têm base bíblica e
são reforçadas por renomados teólogos, como John Calvin, Charles Spurgeon e
Louis Berkhof, que defendem a supremacia de Deus na obra da salvação.
No que diz respeito à imensidade de Deus, devemos lembrar
que Ele está presente em todos os lugares e que Sua justiça também é manifesta
no inferno. Deus é completamente justo e não pode tolerar o pecado. O Salmo
139:7-8 nos lembra: "Para onde me irei do Teu Espírito, ou para onde
fugirei da Tua face? Se subir ao céu, Tu aí estás; se fizer no inferno a minha
cama, eis que Tu ali estás também". A ausência absoluta de Deus no inferno
anula a doutrina da imensidade de Deus. Não há lugar em que Deus não esteja!
Que possamos buscar a verdade nas Escrituras, crescer em
nosso conhecimento de Deus e, acima de tudo, viver uma vida de amor e serviço a
Ele e aos nossos semelhantes, reconhecendo que Ele é o Senhor de tudo e a fonte
de toda a salvação.
Citações que reforçam os argumentos acima.
Agostinho de Hipona (354-430, Era Medieval):
Sobre a soberania de Deus e a salvação: "Deus não nos
escolheu por causa de alguma coisa em nós, mas nos escolheu para que algo
pudesse ser feito em nós" (Sermão 169).
Sobre a depravação total do homem: "O homem, por si só,
está morto e, por isso, ele não pode crer em Deus; mas, ao ser capacitado por
Deus, ele crê" (Enchiridion 29.109).
João Calvino (1509-1564, Era Reformada):
Sobre a soberania de Deus e a chamada eficaz: "Os
eleitos são levados a fé não apenas pela persuasão externa, mas são
internamente tocados pelo Espírito Santo, que os atrai a si mesmo"
(Institutas da Religião Cristã III, 2, 11).
Sobre a perseverança dos santos: "Aqueles que Deus
predestinou para a vida eterna, Ele, sem falta, trará à comunhão com Cristo, e
lhes dará a perseverança, até que cheguem à perfeição" (Institutas da
Religião Cristã III, 24, 4).
Jonathan Edwards (1703-1758, Era Moderna):
Sobre a graça irresistível: "A graça irresistível
consiste nisso: Deus, quando opera graça salvadora no coração de alguém, de
modo algum é resistido por aquela pessoa" (Liberdade da Vontade).
Sobre a soberania de Deus: "A soberania de Deus é a
posse e o exercício de todo o controle sobre o universo" (A Natureza da
Verdadeira Virtude).
Charles Spurgeon (1834-1892, Era Moderna):
Sobre a soberania de Deus na salvação: "Não sou um
calvinista porque li Calvino, mas porque encontrei a doutrina da graça no meu
próprio coração" (Sermon Illustrations, Vol. 4).
Sobre a perseverança dos santos: "Aqueles que Deus
justifica, Ele santifica, e aqueles que Ele santifica, Ele glorificará"
(Spurgeon's Sermons, Vol. 6).
Tomás de Aquino (1225-1274, Era Medieval):
Sobre a soberania de Deus: "Deus governa todas as
coisas e todas as coisas estão sujeitas à sua vontade" (Summa Theologiae,
I, q. 22, a. 2).
Sobre a predestinação: "Deus predestina certas pessoas
para a vida eterna, não por causa de alguma coisa neles, mas devido à sua
bondade" (Summa Theologiae, I, q. 23, a. 3).
Martinho Lutero (1483-1546, Era Reformada):
Sobre a graça irresistível: "A salvação é da iniciativa
de Deus do início ao fim, e nenhum ser humano pode resistir ao poder de Deus
quando Ele o chama" (Bondage of the Will).
Sobre a perseverança dos santos: "Aqueles que são
verdadeiramente salvos por Deus nunca perderão a salvação, pois a obra de Deus
em suas vidas é eterna" (Comentário sobre a Epístola aos Romanos).
John Wesley (1703-1791, Era Moderna):
Sobre o chamado eficaz: "Deus chama todas as pessoas à
salvação, e aqueles que respondem positivamente ao chamado de Deus são
capacitados pela graça para perseverar até o fim" (Sermon on Free Grace).
Sobre a vontade humana e a soberania de Deus: "A
vontade humana tem liberdade para escolher, mas é a graça de Deus que capacita
e leva os indivíduos a fazerem a escolha correta" (The Doctrine of
Original Sin).
Karl Barth (1886-1968, Era Moderna):
Sobre a soberania de Deus: "Deus é completamente livre
e soberano em sua ação e não está limitado por nada além de si mesmo"
(Church Dogmatics).
Sobre a graça irresistível: "A graça de Deus é eficaz e
irresistível em sua ação, capacitando os indivíduos a responderem positivamente
ao chamado de Deus" (Church Dogmatics).
Com respeito e amor,
Pr. Camilo
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